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3 de novembro de 2010

Tentando coisas novas: argila.



Atire (em mim) a primeira pedra o professor que nunca pensou que trabalhar com argila seria um sucesso.

A variedade de materiais escolares disponíveis para se trabalhar com os educandos muitas vezes causa uma falsa ilusão de diversão e sucesso. É tudo mentira.

A argila, por exemplo, pode ser comparada ao entorpecente ilegal: você fica afoito pra comprar, é extremamente difícil de conseguir em grandes quantidades, pensa que a aventura vai ser psicodélica e os resultados são um "barato" de cinco minutos com os alunos e roupas completamente sujas.

No meu caso, a argila é aquele sapato bonito dentro do armário: você olha e pensa "que lindo esse sapato, por que parei de usá-lo?". Calça-o e vai trabalhar. No meio da tarde, descobre: o mindinho esquerdo está irremediavelmente esmagado. É essa a minha impressão com a argila. Eu planejo, compro, levo e quando chego lá eu me lembro: "ahhhh, é POR ISSO que eu não trabalhava mais com argila..."

Pena que o esclarecimento mental vem tarde demais.

Estava eu lá hoje, dando aula, esperando o momento derradeiro de usar a argila. Quando vejo o rostinho dos alunos observando suas classes forradas com jornais lembro-me do pior. Mas agora é tarde. Eles já sabem. Só há duas alternativas: encarar a tarefa com a dignidade de um guerreiro espartano ou sair correndo enlouquecidamente para salvar a sua vida. Pois bem, a monitora chaveou o portão, me impedindo de escolher a opção mais covarde. Enfrentei, portanto.

Dessa vez, eles quase conseguiram me enganar.

Cada um deles ficou lá, nos DOIS (repito: dois) primeiros minutos apenas amassando a argila e pensando em como realizar a tarefa. Pensei: bom, dessa vez não será tão ruim.

O professor, quando planeja, sempre acha que vale a pena.
"Se eu forrar com bastante papel eles não se sujam".
"É só a gente fazer a atividade lá fora que não dá  bagunça"

Poucos minutos depois um coral de "professora! professora!", barulhos de jornal rasgando, aluno esculpindo estátuas gregas com TODOS os seus atributos masculinos em tamanhos desproporcionais, "alguém tem tesoura pra me emprestar?", "não, meeeeeu" e, sem aviso, PLAFT. Argila na parede. "Eu só queria ver se grudava, sora!". Argila nos pés, nas mãos, nas classes, no chão: e todos os lugares onde não se poderia considerar uma obra de arte, lá estava a argila.

Ledo engano o meu, achar que meus alunos poderiam confeccionar algo que lembrasse a cultura grega. É incrível ver como um pedaço de barro moldável pode fazer com que as crianças esqueçam-se de seus atributos angelicais para assumirem o seu lado de animais irracionais histéricos. E eles têm 11 anos! Quase chorei.

Pelo menos posso afirmar, com certeza, que -se não psicologicamente - pelo menos fisicamente saí ilesa da experiência: minha calça jeans de lavagem claríssima e minha blusa ficaram intactas.

Murphy perdeu o momento de me sacanear.
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Caneta e papel para anotar a atividade que PODE dar certo um dia:
  • Confeccione cartazes com folha A4 que representem vários aspectos da cultura grega (teatro, olimpíadas, mitologia, cidades-estado, etc)
  • Espalhe os cartazes pelas paredes da sala e ponha classes perto deles, para que os alunos possam trabalhar voltados para as imagens e os textos.
  • Depois de forrar generosamente as classes com jornal ou revistas, distribua uma "peça" de argila para cada um e peça que confeccionem algum objeto que lembre ou que represente o assunto do cartaz escolhido
  • Ponha a argila pra secar no sol (atenção: se o dia amanhecer chuvoso é um sinal que o deus Piaget te dá para avisá-lo que esse dia não é propício para os trabalhos manuais)
Mais tarde eu ponho as fotos das "esculturas gregas" que os meus alunos moldaram.

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