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31 de outubro de 2010

Sabedoria Educanda: -Q e -N



Você já deve saber que uma das coisas que mais deixa o professor em pânico® é a linguagem dos alunos. Tenho alguns alunos adicionados em meu messager e descobri recentemente o que querem dizer aqueles sinaizinhos que eles mandam.

Enquanto escrevo este post, meu aluno corrige as minhas falhas na linguagem internética e me revela que "loko" não se escreve com k há muito tempo. Engraçado. Pensei que ainda se escrevesse assim, pois essa expressão recentemente apareceu em uma das minhas provas:

"...tipo, Napoleão foi o cara que ficou preso numa ilha com uns lokinhos (sic) e depois fugiram"

Compartilho com vocês o que aprendi, colando diretamente a explicação que ele me deu no post (em amarelo). Ninguém está livre de ter que ler essas coisas por aí:

Sobre o uso do sinal "-Q" em uma frase:
-Q é uma ironia não muito ironia, é mais pra ter algo a mais na frase.
Mas o -Q também serve pra demonstrar que tá surpreso. Tipo:
"Nossa! -Q"

Sobre o uso do sinal "-N" em uma frase:
-N significa bastante ironia.
E quando é "-NNNNNNNNNNNNN" é pq ele não sabe nem explicar o porque de tanta ironia

E o gran finale:
"loko" com k não se usa faz uns anos professorinha.

E eu aqui feliz da vida porque sabia fazer carinhas felizes com sinais gráficos. Hunf!

30 de outubro de 2010

Tentando coisas novas: mapa em alto relevo.




Um dos meus maiores traumas da minha vida escolar é ter tido a melhor professora de geografia de todos os tempos e nunca ter aprendido geografia.

(O que me faz pensar em como os sistemas avaliativos são falhos pra caramba)

Hoje, me pego fazendo faculdade de história e lecionando geografia também, por falta de opção e necessidade dos alunos. O mais incrível é que, quando se trata de geografia, eu raramente tenho problemas com notas ou compreensão dos temas, e encontro alunos bem participativos. Quando é história, rola até recuperações extras. Acho que não estou sabendo vender o meu peixe. Enfim.

Para diminuir a minha culpa em lecionar geografia sabendo ler minimamente um mapa, resolvi inovar e dar aos meus alunos uma experiência bem diferente das que eu tive. A idéia era construir um mapa em alto relevo da região Nordeste e poder usá-lo como "consulta" no dia da prova.

A secretária me ajudou grandemente ao ajeitar os isopores pra mim.
A monitora me ajudou colando os pedacinhos do mapa no isopor.
A diretora gostou da idéia.
A coordenadora achou que era criativa.
Os colegas professores exclamavam "Nossa! Eu nunca tive isso quando era criança, eles vão adorar!"
Eu estava ficando super feliz, porque era uma chance de ver tudo o que se estudou realmente tomar forma.

Os únicos que não gostaram nem um pouco foram os alunos. Reclamaram, fizeram de má vontade, xingavam-se mutuamente e, no fim, até faltou material.

Apesar de eles terem realmente compreendido a dinâmica da região Norte graças as explicações, revisões e até um mini-quiz, o mapa em relevo está até agora inacabado e jaz na "salinha dos materiais" da escola.

Vida de professor tem altos e baixos.
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Pra você que quer a receita do mapa, aqui vai (quem sabe os seus alunos vão gostar):
  • Compre uma peça grande de isopor e imprima o mapa que você deseja reproduzir num tamanho equivalente ao do isopor (talvez seja necessário imprimí-lo em partes e montá-los no isopor).
  • Fixe o mapa no isopor (com cola E dupla face) pois os alunos contruirão em cima dele.
  • Tenha disponível várias peças de argila (para fazer o relevo tal qual está no mapa), erva mate (para fazer a vegetação, depois do relevo pronto) e lã azul (para reproduzir os rios mais importantes, pelo menos).
  • Faça uma escala para o seu mapa (no meu mapa, todas as regiões com 800 m deveriam ficar com 8 cm de argila, 200 m com 2 cm de argila e assim por diante).
  • Avalie não só a confecção do mapa, mas a colaboração, o desenvolvimento da tarefa em grupo e a possível descoberta de novas habilidades.
  • Quando pronto, deixe secar o mapa e a argila no sol, para que não resseque e quebre, caindo do isopor.

29 de outubro de 2010

Sabedoria Educanda: pensadores iluministas



Esses dias, muito a contra-gosto, fui obrigada a aplicar uma prova de recuperação cujo conteúdo era Revolução Francesa e Era Napoleônica.

Eu tenho em mente que se um aluno não estuda pras provas que eu dou, tampouco estudará para as recuperações, mas insisto sempre que eles devem ter uma nova chance, nem que seja só pra gastar papel da Secretaria.



Estavam lá, três, num cantinho da sala, enfileirados, respondendo às questões mais difíceis de suas vidas quando um deles dá um longo suspiro e fala:

"Ai que saudade de estudar os pensadores iluministas!"

Sim, meus alunos gostam dos pensadores iluministas.
Não entendi como eu fiz isso.

Tentando coisas novas: Quiz



"Nesse mundo nada se cria, tudo se copia do Google"

Enfrentando dia após dia de batalhas épicas pela educação, lembrei-de de um recurso divertido que poderia funcionar com os meus alunos, de uma série específica. Até o momento, foi a única série com a qual eu tive problemas pra trabalhar, porque cada turma tem um jeito, um ritmo, uma levada, e a deles eu estava a um caminhão de distância de descobrir.

Trouxe, direto das profundezas do meu ensino médio (cursado há anos atrás) o QUIZ!

O QUIZ - que era batizado pelo meu professor, em suas aulas, de "Show do Tostão" - é a versão sem patrocínio do antiguíssimo "Show do Milhão". Sim, aquele mesmo, do Sílvio Santos. Como eu não pretendo pagar direitos autorais pro homem da Tele-Sena, mudei o nome e copiei o formato descaradamente, assim como meu professor já o fizera anos antes.

O QUIZ, até agora, deu certo. E se tornou uma ferramenta curinga na hora de avaliar os alunos. Sou totalmente contra a memorização de conteúdos, datas e nomes (eu mesma nunca fiz isso) e prefiro a compreensão dos processos e dos acontecimentos. Mas o sistema de avaliação do QUIZ pode ajudá-los a perceber seus alunos.

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Então, caneta e papel na mão. Vamos à receita do QUIZ!
  • Uma turma de alunos divididos em duplas
  • Separação dos conteúdos da matéria: um pouquinho do conteúdo para cada dupla
  • Cada dupla tem a obrigação de entregar 10 perguntas, todas formuladas com três alternativas de resposta e, dentre elas, a resposta certa (pra garantir a veracidade do jogo, obviamente)
  • Terminadas as questões, todas são entregues e passam pela avaliação do professor, que separará as que se poderá usar durante o jogo e pontuará os alunos pela criatividade e desenvolvimento da questão.
  • Recomendo que os alunos tenham o período de pelo menos uma semana para estudar o conteúdo por conta própria (é o tempo que eu tenho entre uma aula e outra com eles), onde eles poderão assimilar algumas coisas sozinhos e onde certamente aparecerão dúvidas antes do jogo.
  • Para o início efetivo do jogo (que pra mim é geralmente uma semana depois), separa-se a turma em dois "times". Escreve-se no quadro as ajudas que os times terão (pular a pergunta, perguntar aos colegas, consultar o livro)
  • Começa o jogo com uma disputa de par ou ímpar e o time ganhador começa respondendo.
  • Cada pergunta certa garante ao time um ponto, cada pergunta errada faz passar a vez para o outro time
  • Regras, limites de tempo e demais considerações ficam à cargo do professor e das necessidades dos alunos.
Pra mim, o QUIZ é uma arma quando preciso vencer muito conteúdo em pouco tempo, em função de conselhos de classe, copa do mundo ou feriadões de última hora.  Com ele, consigo avaliar como anda a leitura do aluno, a compreensão de textos e conceitos e a própria autonomia dele como estudante (aquela coisa do "aprender a aprender" que toda a palestra sobre educação prega).

O QUIZ é minha dica pra você, professor.
Use-o com moderação.

Sobrevivendo em ambiente hostil



A exata uma semana atrás, me descobri usando técnicas de sobrevivência das quais não recordava desde a última vez que havia lido um livro sobre escoteiros na escola.

Às vezes, um ambiente de sala de aula pode ser extremamente hostil e o professor precisa estar preparado, seja pra chamar o convênio médico, seja pra sair correndo e nunca mais voltar.

No meu caso, eu sempre volto.

Dessa última vez, uma das alunas resolveu brincar de peteca com o corretivo, no meio da sala de aula.
Com um espetáculo que só o próprio Murphy poderia nos agraciar, o corretivo misteriosamente atingiu o ventilador de teto que estava ligando e explodiu.

Alunos, mesas, cadernos de chamada, e - surpresa! - até a professora levou um banho de corretivo.
Nesse dia, eu sobrevivi.

É por essas e outras que eu reinvindico o adicional de periculosidade no salário. Sério.

Fatos do Dia



Hoje, assim como todos os dias, acordei quando os raios do sol ainda nem sequer emitiam calor e pensei "não vou trabalhar".

Me acontece todos os dias. Principalmente nas manhãs pós-insônia.
Meu sonho (e o dos alunos) é poder trabalhar numa escola de horário norte-americano: das 9h às 15h, com pausinha pro almoço e sesta (a sesta é por minha conta, acho que o sistema norte-americano não a adota).

Enquanto não rola, discuto mentalmente comigo mesma de manhã e argumento de todas as maneiras.
No fim, eu sempre levanto da cama.

Tentando coisas novas: caça ao tesouro e confecção de livro




Uma das coisas que nos desestruturam psicologicamente, enquanto professor, é justamente o ato de dar aula.

Um "brainstorm" (popularmente traduzido como "tempestade de idéias" ou, como diria um amigo, "toró de pensamento") se arma em sua cabeça. Tudo passa pelo mais alto critério antes de ser posto em prática:

  1. Eles vão gostar?
  2. Eu vou gostar?
  3. Vai ser produtivo e ensiná-los alguma coisa?
  4. Existe a possibilidade de ter que chamar o plano de saúde conveniado da escola?
Depois, é tarde demais: você planejou a aula, sabe a teoria, revisou os detalhes. Na sua cabeça é mais do que impossível dar errado.

Mas dá.

Estava eu pensando no que iria fazer com uma das minhas turmas para tirá-los da sala de aula e movimentá-los pela escola, dar mais ação ao conteúdo. Decidi-me por um caça ao tesouro que culminaria na produção de um livro, a ser disponibilizado para o uso na biblioteca.

Na hora de executar, surpresa!

"Sora, ele pegou o meu estojo!"
"Sora, não acho o envelopinho, já procurei em TODOS os lugares!"
(diz o jovem, tendo olhado apenas em baixo do seu banco)
"Me dá aqui esse livro, ME DÁ AQUI ESSE LIVRO!"

E quando vejo..."ops! acho que rasgou".
Sem olhar, eu torço mentalmente para que a interjeição refira-se ao livro que estão confeccionando, e não à calça de um dos alunos.

Tudo bem. A idéia era boa.
Quem sabe no ano que vem?
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Para os que têm infinita esperança, cedo a minha quase aula:

  • Pegue o conteúdo e reuna-o no word, deixando uma imagem e um pequeno texto para cada "parte" do seu livro.
  • Separe as imagens e os textos em envelopes e distribua-os pela escola em lugares de difícil (mas não perigoso) acesso: isso garante que eles percam boa parte da energia procurando os envelopes.
  • Deixe à disposição folhas de ofício para que os que finalmente encontrarem o seu envelope possa começar a associar imagens e textos e colá-los de acordo com a ordem correta nas folhas.
  • Depois que os alunos colaram (e se possível, durante o processo, pra evitar dores de cabeça), revise todas as páginas para garantir que todas as associações foram feitas corretamente, guarde as folhas e mande encaderná-las.
  • Disponibilize o livro na biblioteca da escola e quando um aluno estiver com dúvidas sobre o assunto, peça-o para procurar a solução nas páginas do livro que ele mesmo ajudou a fazer.

Desconstrua. Cause um desequilíbrio. Desacomode seu aluno.

Deixe Piaget orgulhoso.

Primeira Postagem: O MOTIVO

Não é fácil ser professor.
Existirão sempre os dias em que aqueles que optaram pelo magistério hão de pensar: "...mas e se eu tivesse me formado em Medicina?".
O salário é pouco, o trabalho é muito.
Mas pelo menos as risadas são garantidas.

O motivo da criação desse blog é o mais honesto possível:
Preciso de um espaço pra falar quando, afinal, a coisa não dá certo.
E um espaço pra compartilhar as coisas que, de vez em quando, dão certo.

Esse é meu espaço.