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5 de novembro de 2010

O drama de alguns professores



Sofro atualmente de um drama profissional que erroneamente pensava acontecer apenas comigo. Tenho 21 anos e sou professora do 6º ao 9º ano (ou da 5ª à 8ª série). Muitos dos meus alunos são maiores do que eu e, em particular, um do 9º tem quase a minha idade.

Nunca tive esperanças de ser contratada para trabalhar tão cedo: em relação a aparência muitos ainda acham que eu tenho 16 anos. Na escola onde estou trabalhando, lembro-me que no primeiro dia, quando cheguei, a monitora perguntou se eu era aluna ou se ía me matricular. Fiquei muito sem graça de dizer que eu estava ali para a entrevista para professor de geografia.

Em geral, depois que essa parte se resolve, pensei que nunca mais teria problemas vindos da administração da escola e sim dos alunos. Cheguei a conclusão que as coisas só poderiam ir para dois lados: ou eles me receberiam como uma professora amiga, que tem o mesmo estilo de vida e a mesma linguagem (com algumas exceções) internética e se sentiriam à vontade comigo a ponto de não me devotarem o respeito docente devido, ou ficariam desconfiados da minha aparente juventude e questionariam a minha capacidade de ensiná-los alguma coisa. Felizmente, nenhum dos dois aconteceu. Acreditam plenamente na minha capacidade e me recebem muito bem, inclusive adicionando-me aos seus messagers, orkuts e daí por diante. Não há falta de respeito e ocasionalmente extrapolam nas brincadeiras, o que eu considero ser mais em função da fase escolar em que se encontram.

Entretando, a administração da escola acaba comigo. No sentido cômico, é claro. Seguindo a orientação da escola de que os professores também deveriam usar o uniforme, nas poucas vezes em que o fiz, fui confundida com os alunos. Algumas vezes, quando a monitora ou a coordenadora entravam na sala, nem sequer me enxergavam: eu estava igual a todos os outros (e também era do mesmo tamanho).

Para resolver parcialmente o drama, passei a não usar mais o uniforme da escola e todas as roupas com que trabalho são radicalmente diferentes em modelo e cores do uniforme escolar. Na prática, não me importo de ser confundida com um aluno (a vaidade feminina me impede de reclamar por ser vista como mais jovem), mas me demandava muito tempo acalmá-los e reestabelecer a ordem na turma quando todo o tipo de piadinhas apareciam sobre o meu tamanho.

Não posso reclamar: exerço a profissão por mais que os meus empregadores tenham achado inicialmente que eu era menor de idade. Com 21 anos, estou concluindo a faculdade de História e vou ingressar no bacharelado. Entretando...

...o que farei com os próximos empregadores?

Quem (além da minha escola) vai querer contratar uma professora que aparenta ser um aluno?

Não que eu ache que a professora precise ter cara de professora. E admito que muitos no meu curso realmente têm cara de professores (aquela cara de quem carrega o bom humor e a sapiência no coração, geralmente usam óculos) e outros apenas de historiadores (aquelas carinhas mais revolucionárias com piercings, cabelos grandes e all star). Talvez eu seja a única que tenha cara de adolescente.

O drama profissional continua...

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