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11 de novembro de 2010

Quando os alunos superam a si mesmos (e ao mestre)



Juro que hoje foi um dia que todo professor pediria a Deus (ou, pelo menos, aqueles mais chegados com o Altíssimo).

Dei 4 períodos tranquilíssimos de aula tendo em mente que tranquilidade não significa só ausência de agitação (um mal que sempre nos aflinge no final do ano), mas a participação e o interesse da turma. Afinal, se eles não gostam, não se interessam ou não se sentem atraídos, não é uma aula tranquila...pra mim.

Nos últimos períodos, descubro que os meus alunos do 8º ano adquiriram uma certa "intelectualidade" e um gosto por discutir (e não polemizar, o que é totalmente diferente) todos os assuntos. Normalmente, as soluções por eles apresentadas aos problemas começam com a frase "QUANDO eu for presidente..." e discorre-se uma série de soluções e medidas sócio-administrativas. É fascinante. Eu considero um exercício mental muito saudável, uma vez que eles percebem por si mesmos que possuem um cérebro funcionante.

Entretanto, esse crescimento intelectual exponencial pode intimidar um professor mais inseguro. É quando os alunos demonstram que sabem - e de fato, o sabem - mais do que o professor, mesmo que seja sobre um assunto pequeno e específico. Eu fico feliz da vida. Significa que eu terei que dar menos aulas e menos explicação.

Hoje, ao falar sobre alguns "pólos econômicos brasileiros" (café no sudeste, cana-de-açúcar no nordeste, charque no sul, etc) meu aluno, subitamente, começa uma verborragia sobre teorias econômicas, taxas cambiais e as funções do Banco Central. Confesso, com uma certa vergonha, que eu mesma só fui aprender tudo isso a uns 4 meses, quando comecei a disciplina de "Política e Economia Brasileira" na faculdade. Fiquei impressionadíssima. Ele não simplesmente recitou algo pronto. Ele SABIA.

No final, ele disse que a alternativa pra enriquecer é comprar dólares quando o câmbio estiver baixo e esperar até que o BACEN compre os dólares que sobram na economia pra que o câmbio suba novamente e ele possa trocar os dólares pela moeda nacional...em maior quantidade, óbvio. O discurso também envolveu a clássica frase "Quando eu for presidente...". (Gravei a versão "mini" do discurso no celular, mais tarde ponho o áudio).

Quando eu vi que a aula rendeu mais do que o ano inteiro, e que mesmo assim haviam grupinhos dispersos, pedi aos interessados na aula que sentassem à frente para continuarmos o diálogo. Surpreendi-me quando 50% da turma pegaram suas classes e as trouxeram até a frente. Tendo apenas 2 semanas para o final do ano, é muito raro ver essa enorme quantidade de alunos dispostos.

Só não me ajoelhei no chão e chorei agradecendo a Deus ali mesmo porque precisava garantir minimamente a minha dignidade profissional.

Fascinante, adorei. Os alunos devem superar os mestres.
Mas não a ponto de tirar-lhes o emprego, é claro.

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